
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PP), está no centro de uma polêmica envolvendo a construção de uma casa de luxo de 440 m², avaliada em R$ 3 milhões, em um condomínio de alto padrão em Porto Feliz (a 115 km da capital paulista). O empreiteiro responsável pela obra, Genilton Mota, da Construtora Mota, afirmou em conversa gravada pelo portal Metrópoles que os pagamentos são intermediados pelo empresário Guilherme Moron Peres Trindade (conhecido como Gui Moron), amigo pessoal de Derrite e condecorado por ele com uma medalha da Polícia Militar em outubro de 2023.
Em diálogo com repórteres (que se passaram por interessados em serviços da construtora), Mota declarou:
“Essa parte [pagamento] eu alinho com o amigo dele [Gui Moron]. Faço a nota pra ele certinho, e daí ele faz o pagamento”.
A declaração contradiz a versão oficial da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), que em nota negou qualquer participação de Moron:
“A obra está sendo custeada exclusivamente com recursos próprios do secretário, provenientes da venda de um apartamento e de seus rendimentos mensais. Todos os pagamentos são realizados diretamente por Derrite, via transferências bancárias”.
O imóvel, com piscina, revestimentos de madeira nobre (cumaru) e esquadrias de vidro, teve o terreno adquirido por R$ 475 mil à vista em junho de 2023. O custo total (R$ 3 milhões) supera em quase 4 vezes os R$ 812 mil em bens declarados por Derrite ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022, quando se reelegeu deputado federal. Atualmente, seu salário líquido como secretário é de R$ 25 mil mensais.
Gui Moron, apresentado por Derrite como “amigo de infância” em redes sociais, é dono de empreendimentos como a casa de eventos UZNA (Sorocaba) e a churrascaria de alto padrão em Araçoiaba da Serra — esta última também construída pela Construtora Mota. Quatro meses após a compra do terreno por Derrite, Moron recebeu do secretário o Colar Evocativo ao Sesquicentenário da Revolução Liberal de 1842, honraria da Polícia Militar 19. Em agradecimento, Moron postou nas redes:
“Agradeço ao secretário Guilherme Derrite […] Estarei sempre ao lado dos policiais” 1.
O PT paulista acionou o Ministério Público de São Paulo (MPSP) para investigar indícios de “enriquecimento ilícito ou ocultação patrimonial”. A representação, assinada pelo líder da bancada, Antonio Donato, destaca que notas fiscais da obra estariam sendo emitidas em nome de Moron. O caso expõe ainda o relacionamento entre Moron e autoridades: ele participa de eventos com o governador Tarcísio de Freitas e o ex-presidente Michel Temer, além de ter negócios com prefeituras parceiras da SSP-SP.

A construção da mansão em Porto Feliz tornou-se um símbolo das tensões entre poder público e interesses privados em São Paulo. Enquanto a SSP-SP insiste na legalidade das transações, a incompatibilidade entre o patrimônio declarado e o investimento imobiliário, somada às conexões privilegiadas entre Derrite e Moron, alimentam suspeitas que só uma apuração independente poderá esclarecer.
Até o fechamento dessa edição, não há registros de um pronunciamento oficial de Guilherme Derrite.