
O ex-presidente Donald Trump sugeriu, nesta segunda-feira (1), a possibilidade de deportar o empresário Elon Musk, após críticas públicas feitas pelo bilionário à nova proposta fiscal do Partido Republicano. O comentário de Trump ocorreu durante uma coletiva de imprensa, na qual foi questionado sobre retaliações contra Musk, que é cidadão naturalizado nos Estados Unidos. “Não sei. Teremos que ver”, declarou. Trump também fez uma referência enigmática à sigla DOGE — Departamento de Eficiência Governamental, anteriormente liderado por Musk — dizendo que “o monstro pode ter que voltar e devorar Elon”.
A declaração foi interpretada como uma resposta direta às críticas de Musk ao projeto de lei apelidado por Trump de “One Big Beautiful Bill”, que elimina progressivamente o crédito fiscal de US$ 7.500 para veículos elétricos. A medida afeta diretamente os negócios da Tesla, empresa comandada por Musk, que já se beneficiou de incentivos federais, como o financiamento de US$ 465 milhões do Departamento de Energia, quitado em 2013.

Na rede X (antigo Twitter), Musk respondeu indiretamente às declarações: “É muito tentador escalar a situação”, escreveu. Em outros posts, acusou o projeto de aumentar em US$ 5 trilhões o teto da dívida e ameaçou apoiar pré-candidatos contra republicanos favoráveis ao texto. Musk também cogitou criar um novo partido político — o “American Party” — voltado a eleitores da base MAGA decepcionados com Trump.
Legalmente, especialistas consideram improvável uma deportação de Musk, naturalizado em 2002. Casos do tipo exigem comprovação de fraude durante o processo de naturalização. Embora antigas alegações sobre trabalho irregular com visto de estudante nos anos 1990 tenham ressurgido, Musk afirma que sua transição de visto J-1 para H1-B ocorreu dentro da legalidade. Segundo o advogado David Bredin, “não há base jurídica clara para deportação, a menos que haja provas robustas de fraude no processo de cidadania”.
O conflito marca um rompimento público entre dois aliados políticos. Musk foi um dos principais apoiadores da campanha de Trump em 2024, mas a relação se deteriorou com divergências sobre políticas fiscais e energéticas. O bilionário acusou Trump de ingratidão e chegou a insinuar, em uma postagem posteriormente apagada, o envolvimento do ex-presidente com os arquivos do caso Epstein.
Nas redes sociais, a reação foi polarizada. Críticos de Musk lançaram petições por sua deportação, citando seu histórico migratório e influência política. O deputado democrata Don Beyer e um funcionário do Departamento de Estado teriam endossado críticas públicas. Por outro lado, defensores do empresário apontam hipocrisia nas ameaças, diante da falta de rigor em outras áreas da imigração.
As declarações de Trump parecem ter caráter retórico e simbólico, mas acendem alertas sobre o uso de instituições públicas como instrumento de vingança política. A resposta firme de Musk, incluindo ameaças de reorganização partidária, sugere que o embate ainda está longe do fim — com implicações significativas para o cenário político, econômico e institucional dos Estados Unidos.